Parte 2 - A Breve História do Existencialismo: VI - Pós-Estruturalistas - Paul Ricouer
A Dialética da Libertação: Anarquismo, Existencialismo e Descentralismo.
Parte 2 - A Breve História do Existencialismo:
VI- Pós-Estruturalistas - Paul Ricouer
"Quando começamos a escavar no nosso interior, começou uma revolução no Mundo." - charlie777pt
1- Introdução
Talvez a melhor maneira de entender a génese, as influências e a evolução do pós-estruturalismo, seja a perspectiva do Crítica Literária da literatura moderna no século XX, com a ajuda da figura abaixo.
A Europa na segunda década do século XX experimentou a ascensão do Formalismo Russo, nos anos 30, o círculo linguístico da Escola de Praga e depois as influências do neo-estruturalismo latino-americano dos anos 50, criando métodos básicos de análise estruturalista literária, com mais influência em Linguística e na Semiótica.
Nos Estados Unidos, o Pragmatismo Americano, com os desenvolvimentos da "ação simbólica" de Burke e a teoria dos "arquétipos" de Fryes, trazem uma nova crítica nas obras literárias.
Mais tarde nos anos 60, pela voz de Dell Hymes em "The Ethnography of Speaking", introduz o funcionalismo de Praga à antropologia linguística americana.
Nos anos 60, na Europa, o estruturalismo aparece com a fenomenologia da Escola de Génova, a psicanálise, e a Escola marxista de Frankfurt, para criar o pano de fundo para o surgimento da desconstrução, da hermenêutica e da psicanálise lacaniana, e posteriormente, das teorias francesas do feminismo.
Estes movimentos refletiram-se na filosofia norte-americana, com o nascimento do desconstrucionismo e do pós-estruturalismo americanos, enquanto a linha do filósofo marxista Althousser nos deu a crítica cultural americana.
Althousser também influenciou o pós-marxismo pós-modernista e o materialismo cultural francês / europeu e no Reino Unido, que serviria como base para o pós-estruturalismo contemporâneo americano com o pós-modernismo e o criticismo cultural e também com as teorias do multiculturalismo, do género e do pós-colonialismo.
Esses movimentos tiveram continuidade no nosso século com as atuais humanidades digitais americanas, e as críticas de rede e bio-eco.
No final do século XX, na Europa, vemos a visão pós-modernista da sociedade como a geradora de crescente instabilidade psicológica humana e sintomas de esquizofrenia e paranóia nas sociedades pós-industriais, principalmente com a obra de Louis A. Sass Loucura e Modernismo (Madness and Modernism) - Insanidade á Luz da literatura e arte e pensamento moderno, para explorar a relação entre doença mental e a cultura moderna pós-industrial
"Não há fatos, apenas interpretações." - Friedrich Nietzsche
Os efeitos desumanizantes da tecnologia na mão dos poderosos, estão a desrespeitar os valores e direitos humanos e o nosso planeta, numa realidade cada vez mais voltada para dados, que molda comportamentos conformistas e o consumismo ganancioso, e a única saída é passar pela nossa investigação profunda, sobre a natureza da existência, o sofrimento e o nosso verdadeiro Eu interno, para crescer a nossa consciência na ação prática.
Como comentei recentemente num post, O Conhecido e Desconhecido de nosso ego profundo, preso numa teia de estruturas do poder na realidade, talvez possa ser a interminável luta entre o nosso Consciente (David) e nosso Inconsciente (Golias), sendo o Subconsciente é o campo de batalha, onde a liberdade é forjada.
Numa visão interdisciplinar, e olhando para estudos recentes, podemos agora relacionar a alteridade (ser outro para o outro) e o comportamento, com o conceito de Neuroplasticidade da fisiologia e das neurociências, significando que o cérebro muda a sua estrutura, sempre que aprendemos e fazemos coisas novas, ou temos visões inovadoras, mas as estruturas de longo-prazo no cérebro só crescem pela disciplina e pela prática continuada.
2 - Paul Ricouer (1913-2005) |
"A Verdade está escondida nas tensões do nosso eu." - charlie777pt
Paul Ricoeur era um filósofo hermenêutico pós-estruturalista do século XX, com um vasto trabalho, um caçador do sentido da vida e das tensões internas dos seres humanos para encontrar a auto-inteligibilidade e a auto-estima mais importante, buscar a eterna questão de quem nós somos e o que estamos fazendo aqui.
Além de ser cristão, ele evita a concetualização teológica nos seus paradigmas filosóficos.
“Ao que um homem chama Deus, outro chama as leis da física.” - Nikola Tesla
As suas primeiras influências são o clássico Aristóteles, Kant, Hegel e Heidegger, que são a base para formular sua teoria.
Para ele, o sujeito está sempre numa situação, e ele viu a subjetividade humana na primazia da linguagem, intermediada por símbolos, onde a auto-compreensão é um ato ficcional de interpretação através da imaginação.
"O texto é um campo limitado de construções possíveis." - Paul Ricoeur
A subjetividade da auto-compreensão é o foco principal da filosofia de Ricouer, que é quase uma antropologia do sujeito, sempre inserido dentro de um contexto histórico, num lugar (físico), embutido num enquadramento social, e no eixo do tempo (data).
A sua hermenêutica analisa o quadro de textualidade para encontrar significado na fala, no texto escrito e nas condutas, para uma ter uma vida mais significativa na nossa atual alienação da sociedade pós-moderna.
"Não há realidade exceto a que está contida em nós. É por isso que tantas pessoas vivem uma vida irreal. Elas tiram imagens de fora delas para a realidade e nunca permitem que o mundo dentro delas se afirme." - Hermann Hesse
Ricouer quer encontrar uma maneira de investigar o Self nas tensões ontológicas , entre a nossa natureza neurofisológica e o animal social, bem como, o conflito entre causalidade material e a linguagem expressa por nossos motivos e ações, e que a filosofia deveria ser o caminho para encontrar e expressar essa natureza interior que se revela e se esconde no discurso.
"A narrativa constrói a identidade do personagem, o que pode ser chamado o seu/sua identidade narrativa, na construção da história contada. É a identidade da história que faz a identidade do personagem." - Paul Ricoeur
Nossa existência é o nosso Destino, sempre constrangido pela materialidade, normas e regras sociais, e pelo nosso destino de envelhecer e morrer, o que cria tensões internas entre a nossa natureza biológica e as nossas necessidades, e os nossos valores e princípios filosóficos e éticos, sendo nós os magos de inteligibilidade de nós mesmos.
As nossas tensões interiores, certamente têm reflexos na nossa ansiedade, e por isso devemos estar vigilantes, para poder encontrar um método para revelar o ser humano real, e atingir uma estabilidade e coerência no sentido e no significado da vida, como Ricoeur tentou nos mostrar.
"A sabedoria encontra a sua expressão literária na literatura de sabedoria." - Paul Ricoeur
3 - Conclusão da série sobre o Pós-Estruturalismo
Aqui termina a pequena série sobre o pós-estruturalismo, para finalmente entramos nas grandes figuras que expuseram e tornaram o existencialismo como a filosofia do século XX. a que iremos dedicar os próximos posts.
No século passado dizia-se que os gatos curiosos acabavam mortos, mas neste século, temos que perceber que um gato que não é curioso será rapidamente eliminado.
A filosofia é a modelação eterna da criação humana e das rupturas com o conhecimento coletivo, em que toda a suposição cognitiva é um produto de uma mudança filosófica, dum pensamento e discussão prévia, que serve para desmascarar e desconstruir a realidade.
A filosofia é ser curioso para questionar a realidade e a nós mesmos, e a ferramenta tipo faca suíça, que serve para lidar com o Mundo e nós próprios, para a criação de conhecimento inovador, novas tecnologias/produtos e para reestruturar ou revolucionar os paradigmas científicos vigentes.
Qualquer produto, técnica ou paradigma científico, é sempre o resultado de um questionamento pré-filosófico, como um processo de desconstrução da realidade para encontrar as estruturas e entidades internas de qualquer fenômeno.
Para fabricar um produto como uma garrafa, ou um sistema como o blockchain Steemit, há sempre uma longa fase de discussão filosófica, que hoje é chamada de design e estratégia, que no final é traduzida por final o trabalho final, que não é mais que o reflexo da dialética filosófica do questionamento da realidade.
A realidade dialética da Existência e da nossa Essência é uma questão eterna, sem respostas estáticas à verdade, exceto o ato de continuar a questionar.
O conhecimento cognitivo (saber) e o Eu (sentimentos e emoções) reduzem a ansiedade da incerteza crescente da realidade aumentada e acelerada da sociedade atual.
A intuição e o imaginário são forças para frear as cadeias do poder na Humanidade, perfurando as camadas de nossos Eus prisioneiros das teias da realidade.
O Conhecido e o Desconhecido de nossos egos profundos, que lidam com as estruturas do poder na realidade, é a luta entre o nosso Consciente (David) e o nosso Inconsciente (Golias), onde o Subconsciente é o campo de batalha.
Quase tudo já foi escrito e dito sobre a libertação interior como a forma mais eficaz para gerar transformação social.
A Filosofia, a literatura, as artes e uma ciência com consciência, foram criadas por personagens que anteciparam totalmente a degradação da atual sociedade materialista, na qual o homem já foi enfaixado e acorrentado para caminhar até um beco sem saída, onde está em risco a sobrevivência da própria espécie, em nome do poder e do dinheiro nas mãos dos executores da condição humana e do próprio planeta.
Ferramentas não faltam para a libertação da humanidade, o que falta é que as pessoas percebam que são uma condição para a sobrevivência.
4- Adenda
A Música industrial, a que vou dedicar um post nesta série, que é um movimento musical ativista, com um gostinho de pós-marxismo e pós-estruturalismo, sobre a desconstrução do poder na realidade, e os jogos da estrutura inconsciente da linguagem, implementados nos nossos cérebros, pela moderna e barulhenta transmissão de mídia e da sociedade baseada em dados, que é bem expressa nesta forma de arte que pode ser usada para drenar e reestruturar os nossos campos de consciência.
A próxima faixa da banda industrial Test Dept., mostra como a linguagem pode ser distorcida em contextos contranstantes., e que pretende exorcizar a máquina que nos possessionou, como um fantasma invisível que impregna e ofusca os nossos valores pessoais.
Test Dept. - New World Order (1990)
Parte das letras são de Bush Senior(42) que agora é crâneo e osso (that is now in skull'n'bone)
Video Curto (Legendado em Português)
Paul Ricoeur Fala de Sua Obra Filosófica - Legendado
Origem da Foto: Wikipedia
A Dialética da Libertação: Anarquismo, Existencialismo e Descentralismo.
Artigos publicados:
Introdução à Dialética da Libertação: Anarquismo, Existencialismo e Descentralismo
I - Anarquismo
- O que é o Anarquismo?
- A História do Anarquismo
- Parte 1 - Pré-Anarquia - Revolução Social
- Anarquia: Revolução Contra o Estado
- A Anarquia Hoje
- Índice e Conclusões da part 1 - Anarchy
II - Existencialismo
- O que é o Existencialismo?
- Parte 1 - Introdução Livre e Errática ao Existencialismo
- Parte 2 - História Breve do Existencialismo: Antes do Pré-Existencialismo
- Parte 2 - História Breve do Existencialismo: I - Pré-Existencialistas
- Parte 2 - História Breve do Existencialismo: III - Fenomenologia - Brentano a Husserl
- Parte 2 - História Breve do Existencialismo: III - Fenomenologia - Jaspers a Sheller
- Parte 2 - História Breve do Existencialismo: IV - Humanismo Existencialista - Buber, Arendt, e Tillich
- Parte 2 - História Breve do Existencialismo: V - Humanismo Existencialista - Rollo May
- Parte 2 - História Breve do Existencialismo: V - Humanismo Existencialista - Abraham Maslow
- Parte 2 - História Breve do Existencialismo: VI - Pós -Estruturalismo - Jacques Lacan
- Parte 2 - História Breve do Existencialismo: VI - Pós -Estruturalismo- Michel Foucault
- Parte 2 - História Breve do Existencialismo: VI - Pós -Estruturalismo - Emmanuel Levinas
- Parte 2 - História Breve do Existencialismo: VI - Pós -Estruturalismo - Jacques Derrida
- Parte 2 - História Breve do Existencialismo: VI - Pós -Estruturalismo - Paul Ricouer - Este Post
Próximos posts da Série:
II - Existencialismo(Cont.)
- O que é o Existencialismo?(Cont)
- Parte 3 - A Filosofia do Existencialismo : I - O significado do Sem Sentido
- Os "Existencialistas"
- Parte 1 - Os Jogadores e os Tempos
- Parte 2 - Jean Paul Sartre - O Homem do Século XX
- Parte 3 - Simone de Beauvoir - o Castor
- Parte 4 - Albert Camus - o Absurdista
- Part 5 - Merleau-Ponty - um humanista do Existencialismo
- Part 6 - Gabriel Marcel
- Humanismo e Existencialismo
Parte 4 - O Medo da Liberdade de Erich Fromm - Existencialismo e Anarquismo
- O Futuro: Pós-Humanismo, Transumanismo e Inumanismo
III - Descentralismo
- O que é o Descentralismo?
- A Filosofia do Descentralismo
- Blockchain e Descentralização
- Anarquismo, Existencialismo e Descentralismo
IV - Dialética da Auto-Libertação
- O Congresso da Dialética da Libertação
- Psicadelismo e movimentos Libertários e Artísticos
- O Budismo Zen de Alan Watts
- Psicanálise e existencialismo
- O movimento antipsiquiátrico
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