What happens in Lagos? E o que acontece por aqui?
PROPOSTA
Como seria possível conhecer uma cidade que você nunca colocou os pés?
Como aproximar 6 mil km de distância e ouvir as batidas do coração de um ser humano do outro lado do planeta?
Há mais coisas que nos aproximam do que nos separam. Provavelmente a resposta do título desse texto é POTÊNCIA. Mas vc terá que descobrir por si mesmo.
Gostaria de te contar sobre todas as músicas que ouvi, mas não posso fazer isso sem que vc mesmo descubra. Então sugiro que entre comigo nesse desafio e abra todos os links sugeridos em verde ao longo desse texto. Te garanto que vai te surpreender.
O DESAFIO
Foi assim que descobri What happens in Lagos? um registro íntimo em iorubá e inglês, de Lagos, Nigéria, a cidade mais populosa do continente africano e a segunda maior do mundo, com 16 milhões de pessoas, só perdendo para Xangai (17 milhões).
Abriga Nollywood, terceira maior indústria cinematográfica do mundo, atrás apenas de Hollywood e Bollywood. Concentra 80% das exportações e possui boa parte dos milionários do país.
A cidade, caótica e símbolo do desenvolvimento africano, também carrega a dialética de qualquer outro espaço globalizado: a pobreza perante seu crescimento exponencial e industrialização desenfreada. Abaixo do nível do mar, o povo descendente da tribo Awori possui também uma forte economia pesqueira.
A gentrificação da cidade tem causado o despejo de milhares de pessoas, como denunciada por essa reportagem especial da BBC. E você pode entender mais sobre a história da violência em Lagos a partir deste belíssimo e completo artigo.
O QUE OS ACORDES TROUXERAM
Mas falando sobre coisa boa, também é em Lagos que fica localizado Yabacon Valley, como é chamado o hub de inovação da África, com centenas de instituições tecnológicas e startups. Yaba é um subúrbio de Lagos, e significa, em tradução literal, “Mãe Rainha”. E é a 30 minutos de lá que encontramos um rapaz chamado Akitoye Balogun, irmão de outras 4 mulheres e atualmente formado em engenharia.
E é Ajebutter22, pseudônimo de Akitoye, quem me trouxe uma das coisas mais incríveis que ouvi nos últimos dias.
A poetisa Koromine abre o álbum What happens in Lagos?, dividido em iorubá e inglês, com o poema abaixo antes da música “Good Place to Start”:
Como eu começo uma história sobre um lugar que pode te inspirar e te desanimar ao mesmo tempo? Como falar sobre Lagos? Sobre como ela me atrai, me abraça, me encoraja e me cospe ao mesmo tempo? Por onde eu começo? O que é a cidade? Esse estranho e excêntrico lugar úmido. O que é Lagos?
A música inicia com um piano leve, Ajebutter22 rimando em iorubá e você se sente numa oração. Depois migrando para o inglês ele rima:
Espero não estar vivendo uma mentira e levando todos comigo
Não quero deixar nenhum homem pra trás
A realidade de fato não é a mesma, pois meus círculos estão se encurtando
Algumas pessoas não carregarão todo o seu peso
E outras terão um destino diferente
Então eu digo à minha tripulação pra que se mova e eles me seguem como um visionário
Nunca os encontrei parados
O jogo nunca quebra meu coração, eu sou uma lenda
Mantenha sua xícara de comida, não quero benefícios
Sou sortudo por ser um rapper
O mercado de trabalho não tem ajudado muita gente
O mercado de corrida* aceita qualquer um
E nós, jovens, estamos desesperados
Prostitutas fazendo mais do que banqueiros
Compramos petróleo do mercado negro
É mais fácil julgar do lado de fora
Lembro de ter dito que não podia fazer coisas que nem posso admitir nessa intro
Porque é muito, e só vou confessar ao céu, Olorun
É um bom lugar pra começar, Olorun*acredito que se refira a furtos
A CONCLUSÃO, NO MEIO DO JOGO
O álbum é uma vida em 57 minutos que poderia se passar em Lagos ou em qualquer lugar do Rio de Janeiro. Me ensinou sobre moda, cultura, cotidiano, fé e crença (duas coisas diferentes), sobre povos.
What happens in Lagos? e suas batidas originais do que chamo de afrikan-rap trazem não apenas uma história contada, mas experienciada, como se você pudesse ser, por quase 1 hora, um menino do subúrbio da Nigéria pensando sobre seus pais, sobre pobreza, mulheres bonitas e um diferente futuro.
Não por coincidência, Happy Ending é uma música que está não no fim, mas no meio do álbum, que prossegue com a mesma leveza da abertura dele, no que parece ser uma fotografia da vida de qualquer mulher, inclusive de uma de suas 4 irmãs.
Ajebutter22 me ensinou que a música nos permite conhecer além de nossas fronteiras, até mesmo as internas. Me senti conectado com alguém que nunca vi, mas cuja história senti, como se minhas pernas tivessem corrido as mesmas estradas.
Sou extremamente e eternamente grato por isso.
Valeu! A comunidade nigeriana é bastante ativa aqui no Steemit, principalmente organizando eventos com steemians locais e até patrocinando lan houses com os ganhos em criptomoedas. Sei que a Nigéria tb tem uma das maiores indústrias cinematográficas do mundo, depois da Índia, mesmo sem ter muitas salas de cinemas (a produção circula em DVDs e pen drives). Sucesso e boa sorte mais uma vez!!
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