Um registro sobre Fernando Roberto de Oliveira (Relatório de Actifit: outubro 17 2019)
Hoje dissemos adeus para um personagem muito importante no esporte da cidade de Lavras MG.
(foto tirada pelos atletas do projeto CRIA)
Professor Fernando De Oliveira foi o iniciador de um projeto de atletismo que, a mais de 10 anos, atua através da inclusão de crianças, em condições de vulnerabilidade socioeconômica, na sociedade e na Universidade, através do esporte.
Então com o post de hoje, pretendo honrar a memória do Prof. Fernando e fazer um registro que marque essa data tão lamentável para o esporte.
Apesar de todo mérito do projeto - que ninguém é capaz de desmerecer - Fernando sempre será uma pessoa polêmica pela forma truculenta (e às vezes pouco ética) que tinha de lutar suas lutas.
Mas, mesmo com esse jeitão, ele foi vitorioso. Ele contava sobre quando chegou à Lavras e andava pela cidade olhando para as crianças brincando na rua - geralmente negras e pobres - e só conseguia ver atletas. Nas suas palavras: "Uns negão com dois metros de perna!". Fernando amava os negros e tinha muito orgulho de ser um. Estimulava o orgulho negro em seus atletas e fazia do ativismo quase um projeto que andava paralelamente ao do esporte.
Então, ele começou a parar essas crianças na rua e perguntar se elas gostariam de se tornar atletas. E, conforme elas iam dizendo sim, nasceu o projeto CRIA (CENTRO REGIONAL DE INICIAÇÃO AO ATLETISMO).
Através dessa iniciativa, Fernando criou atletas, estudantes, profissionais e cidadãos.
Mais de 1000 crianças passaram pelo projeto CRIA nesses 10 anos.
Mas a que preço?
O seu jeito de ser, era um desafio para quem lidava com ele. Ele sempre (sempre mesmo) acabava brigando com todos (todos mesmo). Mesmo com aqueles que desejavam ajudar a ele ou ao seu projeto. E ao longo do tempo, dado o crescimento do projeto, aumentou a complexidade do trabalho, e foi se tornando muito mais difícil fazer as coisas funcionarem. Ainda mais porque, outro traço marcante na sua personalidade, era a dificuldade de se organizar.
Nessas condições, ele estava sempre precisando da ajuda dos outros, apesar de ser péssimo para ajudar quem ajudava ele. Geralmente atrapalhava quem tentava ajudá-lo. O que, invariavelmente, resultava em brigas.
Mesmo assim o projeto cresceu. As crianças cresceram, ganharam competições a nível regional, estadual, nacional e internacional, quebraram recordes e, ainda, entraram na faculdade e ser formaram. Ele conseguiu bolsas para elas, apoio de empresários da cidade, e levou núcleos do projeto CRIA para outras cidades do Brasil.
O reconhecimento era inevitável. Tanto que a Universidade viabilizou a aprovação de um projeto que construiu uma pista de atletismo profissional novinha no campus, basicamente para atender o CRIA. Um projeto de milhões.
Porém, ele se atrapalhava muito com seu jeito briguento e desorganizado. Aos poucos as pessoas não queriam mais ajudá-lo. O projeto sim, mas ele não. E isso fez com que ele fosse se isolando e tendo cada vez mais dificuldade de fazer o seu trabalho. Eu mesmo não estava conversando com ele, nada além daquilo que fosse indispensável e referente ao nosso trabalho.
Ao mesmo tempo que o projeto crescia, o Fernando foi perdendo credibilidade em ambientes, e com pessoas, vitais para o sucesso do CRIA. E esse isolamento não poderia fazer bem para uma pessoa tão enérgica.
Imagino que o Prof. Fernando já vinha, há algum tempo, apresentando sinais de uma enfermidade emocional. Uma depressão talvez. Algo que não foi notado só por mim. Algo que algumas pessoas chegaram a conversar com ele. Algo que seu corpo chegou a alertar um tempo antes.
Já faziam uns 5 anos que ele dizia: "Vou embora daqui!". Referindo-se a Lavras. E agora ele foi mesmo. E foi aplaudido por muitos daqueles que não suportavam mais o seu jeito. Inclusive eu.
Minha história pessoal é marcada por uma relação voluntária de 17 anos com a corrida de rua. Em 2009 fundamos a ASDELA (Associação dos Esportistas de Lavras e Região). O Fernando havia chegado na cidade nesta época e aceitou o convite para ser um dos fundadores. Desde então a gente brigou bastante, mesmo nunca tendo sido essa a minha vontade.
É impossível não reconhecer o aprendizado que a relação com ele trouxe para mim. Dificilmente vou ter, de novo, a oportunidade de conviver com uma pessoa tão singular. Uma pessoa odiável, mas que fazia coisas que despertavam a nossa admiração.
A única conclusão que eu sou capaz de ter é que ele entregou tudo que prometeu.
Inclusive... ele foi embora.
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Gostaria de expressar os meus mais sinceros pedidos de desculpas às pessoas que possam ter se sentido ofendidas com o relato acima.
Sinto a necessidade de enfatizar que, em momento algum, tive uma intenção ofender alguém, ou de desmerecer o Prof. Fernando. O texto faz apenas um relato sincero da minha experiência pessoal, de pouco mais de 10 anos, com o Fernando, trazendo a perspectiva (limitada) que tenho do meu ponto de vista e que se constitui como um reflexo da minha interação com ele. Humildemente, gostaria de dizer que acolho toda e qualquer crítica, e que tenho respeito pela interpretação de cada um, sobre o meu relato. Apenas preciso registrar que o texto foi escrito de coração, num momento emotivo e por razões pessoais, sem nenhuma intenção a mais do que honrar a memória dessa pessoa que foi tão importante para o esporte da nossa cidade e do nosso país.