Segunda Guerra Mundial: visitando a Normandia do Dia D
O norte da França é um primor, totalmente diferente daquela caótica Paris que conheci. A capital da França já deixou de ser aquela cidade romântica, modernista, símbolo de progresso, há pelo menos uns 50 anos. No entanto, o interior ainda resguarda paisagens pitorescas, cidades cheias de canteiros de flores coloridas e cafeterias por todos os lados, te fazendo sentir-se em um filme francês, como o clássico “Amélie”.
As cidades de Deuville, Caen e Bayoux, são o cartão postal desta França que descrevi. Elas localizam-se ao norte, na Normandia. Região belíssima, cheia de castelos, rios e casas coloridas.
Mas não se enganem, por traz de toda essa beleza, houve muito sangue e tristeza. Uma lembrança que hoje só existe, de fato, na mente dos poucos senhorzinhos octogenários que lutaram na Segunda Guerra Mundial.
Na guerra, boa parte da França foi ocupada pela Alemanha e na Normandia não foi diferente. A população francesa ficou sob domínio nazista por um bom tempo.
Acredite, Hitler não estava fazendo turismo - 1940
Mas em junho de 1944, tropas americanas, inglesas e canadenses, guiadas pelas informações dadas pela “Resistência Francesa”, finalmente viraram o jogo. Para quem não lembra, esta retomada foi eternizada no filme “O regate do soldado Ryan” e ela foi mais importante do que imaginamos.
Cidade de Caen no fim da guerra
O dia D ou Operação Overlock, foi um ponto chave para a guerra. Foi o momento em que os Aliados se uniram e começaram a ganhar território na Europa e diminuir a influência alemã. Os soldados saíram do Reino Unido à noite para chegar à França pela manhã e pegar as forças alemãs de surpresa. Seu desembarque ocorreu em diferentes partes da costa, inicialmente no Point Du Hoc, e em seguida, nas praias hoje conhecidas como: Omaha, Utah, Juno, Gold e Sword.
Tive o privilégio de fazer uma viagem para esta região e conhecer a história local. Fiquei muito satisfeita ao chegar na semana de celebração dos 70 anos do desembarque e também de saber que ali todos buscam manter esta memória viva, pois o que há de museus sobre a guerra, memoriais das batalhas e visitas às praias onde houve o desembarque, é uma maravilha! Não só turistas, mas estudantes das cidadezinhas do entorno aprendem parte da história da Segunda Guerra Mundial ali mesmo. Em meio a armas, tanques e objetos pessoais originais.
Memorial do Dia D, Caen
Mas acredito que o ponto mais emocionante da viagem, foi conhecer os cemitérios onde muitos daqueles meninos de 17,18,19 anos morreram e foram sepultados. Sim, muitos meninos americanos e ingleses falsificaram seus documentos para defenderem seus países ou para, simplesmente, aventurar-se em terras estrangeiras.
Visitei dois cemitérios em Caen:
O americano, com cruzes e estrelas de Davi, que além de ser enorme, estava bem movimentado com a visita de alguns ex-combatentes e familiares.
O inglês, mais simples porém mais emblemático na minha concepção. Isto porque diferente das lápides americanas, a dos ingleses têm mensagens deixadas pelos pais dos rapazes. Mensagens tristes como “Descanse em paz até que nos encontremos de novo”, mensagens àqueles que permanecem desconhecidos, mas “Deus saberá” e mensagens de amor das esposas, pais e irmãos.
Cemitério Americano
Mas o mais me marcou foi uma lápide específica, que dizia “Um dia nós iremos entender”, esta entrou como uma flecha no meu peito, pois foi o primeiro momento em que me coloquei no lugar daqueles que escreveram isso. Só desejo que a família tenha encontrado conforto.
Cemitério Inglês
Termino meu texto assim. Pois esta é a vida. Estes rapazes foram vítimas das decisões gananciosas de seus próprios governantes, todos eles: ingleses, americanos, alemães, russos e brasileiros. Só espero que aprendamos através destas histórias, que a guerra não nos leva a lugar algum. Não quero discutir aqui segurança nacional, poder de barganha ou de dissuasão, somente refletir que em tempos onde dois loucos trocam ofensas que ameaçam a segurança internacional, diga-se de passagem, Trump e Kim Jong-un, é preciso que haja pessoas que busquem discernimento e que discutam com os mais jovens tais questões, pois pouco a pouco, elas estão sendo esquecidas. É preciso lembrá-los das barbáries do passado, para que não aceitem entrar numa guerra como ovelhinhas, onde os únicos que ganham são os que comercializam armas , ou seja, a indústria bélica.
Um dia iremos entender
Obrigado.
Mais um ótimo post!
Obrigado Max!
@anatripsandfalls, Parabéns! O teu post foi escolhido entre os melhores que eu li durante essa semana! Podes ler esse post neste link