João Canhada, CEO da Foxbit, Fala pela Primeira vez Sobre a Crise
A Foxbit vive o final da sua segunda crise do ano. Separou-se da plataforma da Blinktrade e migrou para um sistema da Alphapoint que, ao entrar no ar, criou uma série de problemas para os usuários. “Agora já estamos em 70%”, disse João Canhada, o CEO da empresa, ao Portal do Bitcoin.
Canhada recebeu a reportagem na sede da exchange e falou abertamente sobre a atual situação, os ataques da comunidade e os planos para o futuro. Confira abaixo os principais trechos da entrevista:
Portal do Bitcoin: Da troca do logo à mudança da plataforma: o que motivou a mudança da Foxbit?
João Canhada: Era o momento para isso. O rebranding vem desde fevereiro e foi baseado em pesquisas que miravam milhões de clientes. A nova marca passa uma segurança diferente, é uma profissionalização. É uma reformulação no sentido de que a gente entrou na fase adulta, fez 18 anos e é hora de mudar o rosto.
E a plataforma? O rompimento com a Blinktrade foi motivado pela crise dos saques duplos em março?
Não, isso foi um problema pontual de tecnologia, que poderia ocorrer mesmo que fosse com a tecnologia própria. Não é um problema específico que levou a essa decisão. É uma série de situações que nos motivou a buscar outra tecnologia.
Quais?
Tem coisas que não posso dizer por questão de NDA (acordos em que as partes são proibidas de revelar informações). Entendemos que era uma relação comercial que já não fazia sentido e que era o momento de seguir com um outro parceiro. E foi quando a gente fez a troca para a Alphapoint.
Como vocês avaliaram a gravidade?
A gente recuperou quase todos bitcoins. Faltaram só dois de 30. O problema não foram os saques duplicados, porque os usuários os devolveram rápido. O problema é que durante a manutenção ocorreu algo mais sério, que foi a gente ter ficado 14 dias fora do ar. Realmente é um dano. O gasto duplo não foi nada perto disso.
Por que vocês decidiram adotar a Alphapoint e não a Foxfast, que vocês já vinham desenvolvendo desde o ano passado?
Não desistimos da ideia de fazer uma plataforma própria. Mas entendemos que a tecnologia não estava pronta. A parceria com a Alphapoint é para um período de transição. E obviamente, se eles entregarem muito bem a gente pode repensar. Por enquanto estamos gastando muito recurso para fazer a tecnologia proprietária.
Precisavam adotar a Alphapoint por causa do fim da relação com a Blinktrade?
Isso eu não posso detalhar, mas a gente precisava subir ou Alphapoint ou a tecnologia proprietária na data certa.
Essa transição tem algum prazo?
A expectativa agora é de 10 a 12 meses para estar com a nossa tecnologia em ordem. Mas para os usuários deve ser diferente da forma como foi a atual, porque fazendo em casa é muito mais simples numa migração. Como eu tive que migrar para um outro terceiro aí é mais delicado.
Quanto tempo vocês tiveram para fazer essa migração de sistema?
Não foi o tempo que a comunidade acha que a gente teve. Foi menos de trinta dias. Tivemos este período para preparar uma migração, organizar a casa, correr, e aí o resultado foi o que você viu.
Não ia dar pra lançar a Foxfast e por isso tiveram que adotar a Alphapoint?
Não, não. Foi por questões contratuais. Tinha prazo. No momento, não posso entrar em detalhes.
A Alpha Point faz só o back-end?
Ela também tem um Front default, que está no ar neste momento e a gente está trabalhando num novo front (dentro do ambiente da Alpha Point) para lançar até o final de outubro e que o controle será 100% nosso.
Houve muitas reclamações durante a troca da plataforma. Quando chegou a hora, e com todo mundo na expectativa, atrasou e vocês não avisaram os clientes. Por que o silêncio?
Estávamos focados no dia a dia e tinha coisas pontuais que precisavam ser resolvidas. Eu nem fiz a ‘live’ que já fiz em várias outras oportunidades, e a gente achou que os comunicados via blog estavam adequados.
Os comunicados via blog foram bem poucos. Quando a empresa disse que a plataforma estava no ar, o volume e a quantidade de trading eram muito baixos para que uma corretora no porte da Foxbit estivesse, de fato, no ar.
Tem usuário que tinha grandes volumes e ele esperou um pouco mais de tempo. Ele não entrou logo.
Sim, mas é que estava dando problema no login também…
A gente migrou todo mundo que tinha saldo na plataforma como prioridade e depois aqueles que não tinham saldo. Tem reclamações bem pontuais, como ‘ah, não consigo acessar’, mas a pessoa não leu o blog, enfim, essas pessoas estavam tentando ir por um caminho não tão adequado. E aí não era exatamente erro da plataforma. Aconteceram falhas também na plataforma, como o reset de senhas que não estava chegando e já foi resolvido. Eu diria que a gente está a 70% do ideal hoje.
A Foxbit falhou em transparência na primeira semana da mudança?
Não faltou transparência, faltaram mais comunicados. Faltou uma ‘live’. Nela a gente resolveria 90% das questões. Porém, a gente optou por não fazer e a comunidade realmente não ficou feliz. A ‘live’ resolveria a sensação de falta de transparência. O pessoal gosta de ver o rosto de quem está por trás. Mas a gente estava canalizando energia para resolver a situação e acabamos optando por não fazer a transmissão ao vivo.
Se pudesse voltar atrás você faria a ‘live’?
Faria sentido sim. Teria sido positivo. Na terça-feira, eu deveria ter feito para avisar que a plataforma iria ficar 12 horas fora do ar. Isso tiraria a sensação de falta de transparência que ficou. No entanto, os saldos sempre estiveram à disposição. Teve gente que solicitou saque via chat e recebeu. E não foram poucos. A gente nunca bloqueou nada e nunca segurou nada. Tivemos problemas de tecnologia. Aprendemos qual é o procedimento adequado para essas situações.
O que vocês aprenderam especificamente?
Aprendemos que o usuário quer uma comunicação direta. A comunidade tem um apreço maior por estar em linha direta com os fundadores ou com quem está na direção do negócio. Eles criam um carinho por isso.
Antes da migração, a Foxbit era líder em volume negociado. Agora vocês disputam o terceiro/quarto lugar.
De julho em diante a Mercado Bitcoin está em primeiro, depois vem a BitcoinTrade e depois a gente, nesta semana. E a gente ainda está a 70% do ideal. Estou bem tranquilo em não estar em primeiro lugar em julho, já era o esperado.
O que falta para completar com esses 30%?
Finalizar a estabilização, abrir os cadastros, pois estão fechados, o marketing também não está acionado. O foco é realmente estabilizar a plataforma. Isso é o que está faltando.
Vocês já sabiam que iriam tomar esse baque?
É uma mudança brutal de tecnologia. Você tira o usuário daquilo que ele já está acostumado. A gente sabe que vai ter usuários que vão levar trinta dias para analisar, testar, olhar de novo, ver o que está vindo. Muitos que hoje estão insatisfeitos com a mudança, vão voltar e vão gostar muito do que a gente tem pra colocar no ar. Temos ideias claras do que vamos fazer neste próximo semestre, desde o lançamento de um aplicativo e novas funcionalidades.
É normal ter 50 pessoas na fila do chat para serem atendidas?
A gente colocou o chat em junho e o pessoal começou a aprender como funcionava. Não tem mais aquelas 24 horas para responder do email. No chat, a gente atende dentro de 1 hora e tenta resolver tudo dentro desse período.
Mas 50 é número de crise?
Sim, o normal é 20. E o atendimento dura cerca de 10 a 15 minutos.
Muita gente reclamou que não está conseguindo acessar a conta ou que perdeu o saldo.
Não houve perda de saldo, houve alguns problema no front onde não exibia o saldo, mas quando apertava F5 e recarregava voltava ao normal. Não houve absolutamente nenhuma perda de saldo.
Se alguém reclamar para o Portal do Bitcoin…
Se tiver me mostra, não houve nenhuma perda de saldo.
Com o retorno, houve aumento de saque em dinheiro e BTC?
Sim, desde antes de atualizar a plataforma. Avisamos aos clientes que quem fosse precisar usar os bitcoins no período, realizasse o saque. Mas a ”balança comercial” já equilibrou.
Os saques estão sendo feito manualmente?
Sim, sempre foram manuais. Apenas na época do banco Neon que tiveram saques automáticos mas deu problema com a API e ainda não nos disponibilizaram outra. Estou doido para voltar a automatizar. É muito melhor pro cliente e pra mim.
E em relação a segurança dos BTC: antigamente a Blinktrade fornecia a estrutura, e agora?
Só a Foxbit.
E que precaução foi tomada?
Adotamos um sistema Multisig Geograficamente separado e não posso entrar em mais detalhes pra não colocar em risco.
A Foxbit saiu de 6 funcionários para 86. Com o mercado em baixa desde o início do ano, como sustentar a folha de pagamento?
A gente se preparou desde o ano passado para construir esse chassi e agora a gente tem um fôlego para suprir esses momentos de escassez.
Vocês estão deficitários?
Quase empatado, mas sim, está deficitário.
Tem caixa pra segurar?
2017 foi um ano lindo. O dinheiro que a empresa gerou foi reinvestido, então temos um dinheiro para ficar em paz por uns bons meses agora se nada mudar em um ano, aí fudeu.
Foi a maior crise da Foxbit?
A crise de março foi pior, pelos 14 dias fora do ar. A atual é dor de crescimento, é uma migração de 400 mil clientes. Não é fácil. É como se o Itaú mudasse a tecnologia inteira deles e eu não tenho a bala na agulha que o Itaú tem.
Vocês são membros da comunidade há muito tempo. Vocês se sentiram pessoalmente atingido pelas críticas?
Tem algumas coisas que eu realmente sinto sim. O que mais dói são os comentários que levantam sobre uma [suposta] “malícia”. A gente faz por amor e pelo que gosta de fazer. Estou na comunidade porque é o que eu gosto de fazer, não estou aqui por dinheiro. Tem corretoras que são modelo banco e tem outras que estão ali pelo negócio em si. A Foxbit está aqui pelo negócio, pelo ativo, pelo Bitcoin. A gente se uniu pelo Bitcoin. Não foi pra ganhar dinheiro. Nem de longe a gente sonhava que iria crescer do jeito que cresceu.
E o futuro da Foxbit?
Nos próximos dois meses uma nova criptomoeda vai ser negociada. Estamos pesquisando para confirmar qual é a mais eficiente, qual a comunidade tem mais desejo. Eu prezo por alguma do top 10 de market cap.
Você falou 2 meses, mas a Foxbit vem falando de uma nova cripto desde o ano passado.
Sim, mas a gente teve um problema de tecnologia e tivemos que trocar para conseguir
A Foxbit tem um time grande de marketing e pequeno de tecnologia, isso vai se equilibrar agora?
É que a gente não tinha tecnologia proprietária. Não tinha sentido econômico ter um time muito grande nessa área, tinha que ter certas pessoas estratégicas apenas. Agora a coisa inverteu e teremos muito mais vagas nessa área.
Quantas pessoas de tecnologia são?
Hoje são oito e a perspectiva é chegar a 30 nos próximos 8 meses.
Então isso significa que em breve terá outra migração de plataforma?
Sim, mas não será para uma de terceiros então teremos muito mais capacidade de controle, diferente do que foi agora que trocamos de terceiro para terceiro. Não terá 1 décimo de problemas do que foi agora.
A Foxbit tem planos para expandir para outras áreas de negócios?
A gente está criando unidades de negócios dentro da holding. Tem a exchange, que atende todos, e a OTC, que segmenta o perfil. Mesmo a ideia de uma bolsa de startups é o mesmo core business, porque não deixa de ser uma negociação de tokens. Outros projetos são o Cointimes, que é um portal de conteúdo para educar o cliente e manter ele dentro do nosso ambiente e a área de educação com cursos presenciais.
As exchanges vivem hoje uma guerra fria com os bancos para manter as contas abertas. É o maior problema do setor?
Essa não é mais fria, é explosiva. Todo mundo tem que entrar com liminar contra os bancos para conseguir operar. No futuro vai ser cripto-cripto, então eles vão ficar fora da equação em breve. Mas hoje sem banco a gente não existe. Ainda é importante a boa relação com banco. Principalmente, os cinco maiores são os que têm mais restrições com Bitcoin, com os quais a relação é mais conturbada. Não dá para ficar em paz, porque é uma questão de quando vai acontecer alguma coisa.
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