SOBRE LIVROS: O poder do hábito, de Charles Duhigg

in #o4 years ago (edited)

O livro apresenta a forma como os hábitos surgem e como podem ser modificados. O autor, Charles Duhigg, aborda hábitos nos contextos individual, das organizações bem-sucedidas e da sociedade.

No aspecto individual, o autor trata da neurologia por trás da formação do hábito. Segundo os estudos apresentados, os hábitos são ações que a parte mais primitiva do cérebro executa de forma automática para poupar esforço. Conforme o hábito se estabelece, menor é a atividade cerebral dedicada à execução de uma tarefa.

Mais fundo dentro do cérebro e mais perto do tronco cerebral — onde o cérebro encontra a coluna — há estruturas mais antigas, mais primitivas. Elas controlam nossos comportamentos automáticos… (p. 29). Objetiva. Edição do Kindle.

Os gânglios basais eram essenciais para recordar padrões e agir com base neles. Os gânglios basais, em outras palavras, armazenavam hábitos mesmo enquanto o resto do cérebro adormecia.(p. 31). Objetiva. Edição do Kindle.

Cada hábito está inscrito nas estruturas neurológicas do indivíduo e para alterá-los, é necessário sobrescrevê-los. No primeiro caso estudado no livro, a pessoa (Lisa) analisada mudou drasticamente seus hábitos ruins(sedentarismo, tabagismo…) para hábitos bons (praticar maratona, economizar…), com isso, seu padrões neurais foram modificados:

…quando os pesquisadores começaram a examinar imagens do cérebro de Lisa, viram algo notável: um conjunto de padrões neurológicos — seus antigos hábitos — tinha sido suplantado por padrões novos. Eles ainda podiam ver a atividade neural de seus antigos comportamentos, porém esses impulsos estavam superados por uma série de novos desejos. Conforme os hábitos de Lisa mudaram, seu cérebro mudara também.(p. 8). Objetiva. Edição do Kindle.

Para promover essa melhoria, primeiro Lisa concentrou na mudança um hábito apenas. E, conforme destaca o autor: os hábitos podem ser mudados se entendermos como funcionam.

Resumidamente o autor conceitua o termo hábito como:

…as escolhas que todos fazemos deliberadamente em algum momento, e nas quais paramos de pensar depois mas continuamos fazendo, normalmente todo dia. Em certo momento, todos nós decidimos conscientemente o quanto iríamos comer e quando sairíamos para correr. Depois paramos de fazer escolhas, e o comportamento tornou-se automático. É uma consequência natural da nossa neurologia. E entendendo como isso acontece, você pode reconstruir esses padrões do jeito que quiser.(p. 12). Objetiva. Edição do Kindle.

O processo de formação do hábito ocorre nos nossos cérebros como um loop em três estágios:

Primeiro há uma deixa, um estímulo (deixa) que manda seu cérebro entrar em modo automático, e indica qual hábito ele deve usar. Depois há a rotina, que pode ser física, mental ou emocional. Finalmente, há uma recompensa, que ajuda seu cérebro a saber se vale a pena memorizar este loop específico para o futuro. (p. 37). Objetiva. Edição do Kindle.

Regra de ouro da formação do hábito
Com a repetição destes três estágios, as ações se tornam cada vez mais automáticas, até formar um novo hábito. No entanto, os hábitos não são inevitáveis, e podem ser ignorados, alterados ou substituídos, desde que se conheça a sua estrutura, os gatinhos que os acionam, e que se tente mudá-los intencionalmente:

…quando um hábito surge, o cérebro para de participar totalmente da tomada de decisões. Ele para de fazer tanto esforço, ou desvia o foco para outras tarefas. A não ser que você deliberadamente lute contra um hábito — que encontre novas rotinas —, o padrão irá se desenrolar automaticamente.(pp. 37-38). Objetiva. Edição do Kindle.

Os hábitos nunca desaparecem de fato. Estão codificados nas estruturas do nosso cérebro, e essa é uma enorme vantagem para nós, pois seria terrível se tivéssemos que reaprender a dirigir depois de cada viagem de férias. O problema é que nosso cérebro não sabe a diferença entre os hábitos ruins e os bons, e por isso, se você tem um hábito ruim, ele está sempre ali à espreita, esperando as deixas e recompensas certas.” (p. 38). Objetiva. Edição do Kindle.

O lado bom é que os estudos demonstram que, uma vez que alguém cria um hábito bom, este se torna tão automático quanto qualquer outro hábito ruim. Com base nessas observações, o autor apresenta o seguinte método para a mudança de hábito:

Identifique a rotina (o comportamento que necessita ser alterado);
Experimente com recompensas (Comida? Distração? Socialização?…): As recompensas são poderosas porque satisfazem anseios. Mas muitas vezes não estamos cientes dos anseios que impelem nossos comportamentos. Para descobrir quais anseios estão movendo hábitos específicos, é útil experimentar com recompensas diferentes. O objetivo é testar hipóteses diferentes para determinar qual anseio está impulsionando sua rotina;
Isole a deixa (Fome? Tédio? Necessidade de pausa entre atividades? …): Uma vez que você descobriu a rotina e a recompensa, só falta identificar a deixa. Experimentos mostraram que quase todas as deixas habituais se encaixam em uma entre cinco categorias: lugar, hora, estado emocional, outras pessoas, ação imediatamente anterior;
Tenha um plano. Um hábito é uma fórmula que nosso cérebro segue automaticamente: Quando eu vejo DEIXA, vou fazer ROTINA para obter RECOMPENSA. Para reprogramar essa fórmula, precisamos começar a fazer escolhas outra vez. E o jeito mais fácil de fazer isso, de acordo com inúmeros estudos, é ter um plano que faça você lembrar da intenção da mudança e também para contornar imprevistos na nova rotina.
Além deste esquema básico, o autor também trabalha com dois conceitos importantes, “hábito angular” e “força de vontade”. Segundo Duhigg, os hábitos angulares são difíceis de serem identificados, mas proporcionam mudanças significativas, pois desencadeiam novos hábitos:

Os hábitos angulares dão início a um processo que, ao longo do tempo, transforma tudo.(p. 130). Objetiva. Edição do Kindle.

…os hábitos mais importantes são os que, quando começam a mudar, desalojam e reformulam outros padrões.(p. 130). Objetiva. Edição do Kindle.

Os hábitos angulares proporcionam aquilo que é conhecido na literatura acadêmica como “pequenas vitórias”. Eles ajudam outros hábitos a prosperar, criando novas estruturas, e estabelecem culturas onde a mudança se torna contagiosa.(p. 140). Objetiva. Edição do Kindle.

As pequenas vitórias são exatamente o que parecem ser, e são parte de como os hábitos angulares geram mudanças disseminadas. Um enorme corpus de pesquisas demonstrou que as pequenas vitórias têm um poder enorme, uma influência desproporcional às realizações das vitórias em si. “Pequenas vitórias são uma aplicação constante de uma pequena vantagem”, escreveu um professor de Cornell em 1984. “Uma vez que uma pequena vitória foi conquistada, forças que favorecem outra pequena vitória são postas em movimento.” Pequenas vitórias alimentam mudanças transformadoras, elevando vantagens minúsculas a padrões que convencem as pessoas de que conquistas maiores estão dentro de seu alcance.(pp. 143-144). Objetiva. Edição do Kindle.

Dezenas de estudos mostram que a força de vontade é o hábito angular mais importante de todos para o sucesso individual.(p. 165). Objetiva. Edição do Kindle.

Força de vontade não é só uma habilidade. É um músculo, como os músculos dos seus braços ou pernas, e ela fica cansada quando faz mais esforço, por isso sobra menos força para outras coisas.” (p. 172). Objetiva. Edição do Kindle.

Os estudos apresentados pelo autor mostram que a força de vontade pode ser fortalecida com a prática, e que os benefícios transbordam para todos os aspectos da vida do indivíduo.

“As pessoas aprendem a controlar melhor seus impulsos. Aprendem a se distrair das tentações. E uma vez que você entrou nesse sulco criado pela força de vontade, seu cérebro tem prática em ajudar você a se concentrar num objetivo.”(p. 175). Objetiva. Edição do Kindle.

Segundo o autor, para a força de vontade tornar-se um hábito, deve-se escolher certos comportamentos de antemão (ter um plano) e segui-los quando as dificuldades se apresentarem.

Outro aspecto importante da força de vontade, é que ela se apresenta mais forte quando o indivíduo tem autonomia para a tomada de decisão, e não quando o cenário é imposto ou a decisão é tomada por outra pessoa:

O simples ato de dar aos empregados um senso de autonomia — uma sensação de que estão no controle, de que têm autoridade legítima para tomar decisões — pode aumentar radicalmente o grau de energia e o foco que eles dedicam ao emprego.(p. 189). Objetiva. Edição do Kindle.

No aspecto organizacional o autor destaca que os indivíduos têm hábitos e os grupos têm rotinas, e que os hábitos angulares estabelecem padrões de excelência que são incorporados pelos funcionários das organizações, mudando assim a cultura no ambiente de trabalho:

Os hábitos angulares tornam escolhas difíceis — como despedir um alto executivo — mais fáceis, porque, quando essa pessoa viola a cultura, fica claro que ela precisa ir embora. Às vezes essas culturas se manifestam em vocabulários especiais, cujo uso passa a ser, ele próprio, um hábito que define uma organização.(p. 157). Objetiva. Edição do Kindle.

Como um exemplo de bom hábito que tem reflexo na cultura organizacional, o autor cita a fala do presidente da Alcoa a respeito de uma demissão:

Ele foi demitido porque não relatou o incidente, e ninguém mais teve a oportunidade de aprender com ele. Não compartilhar uma oportunidade de aprender é um pecado capital.” (p. 157). Objetiva. Edição do Kindle.

Hábitos angulares nos transformam criando culturas que deixam claros os valores que, no calor de uma decisão difícil ou de um momento de incerteza, talvez acabássemos esquecendo.(p. 158). Objetiva. Edição do Kindle.

Quanto aos hábitos desenvolvidos por sociedades, o livro cita como exemplo a mobilização e o boicote ao sistema de transporte público, da cidade de Montgomery, em razão do caso da sra. Rosa Parks. A prisão da costureira mobilizou o jovem pastor Martin Luter King e sua comunidade.

Acompanhando os fatos apresentados no exemplo, o autor identifica três etapas de engajamento que resultam numa mudança dos hábitos sociais.

Um movimento começa devido aos hábitos sociais de amizade e aos laços fortes entre conhecidos próximos. Ele cresce devido aos hábitos de uma comunidade e aos laços fracos que unem vizinhanças e clãs. E ele perdura porque os líderes de um movimento dão aos participantes novos hábitos que criam um novo senso de identidade e um sentimento de propriedade. Geralmente, apenas quando todas as três partes desse processo são preenchidas é que um movimento pode se tornar autopropulsor e atingir uma massa crítica.(pp. 265-266). Objetiva. Edição do Kindle.

Os hábitos da pressão social, no entanto, têm algo em comum. Eles muitas vezes se espalham através dos laços fracos. E ganham sua autoridade através de expectativas comunitárias. Se você ignora as obrigações sociais da sua vizinhança, se despreza os padrões esperados da sua comunidade, você corre o risco de perder sua posição social.(p. 275). Objetiva. Edição do Kindle.

Essa pressão social, por si só, não é suficiente para sustentar um movimento. Mas quando os laços fortes de amizade e os laços fracos da pressão social se fundem, eles criam um impulso incrível. É nesse momento que a mudança social disseminada pode começar. (pp. 275-276). Objetiva. Edição do Kindle.

Por fim, o autor trata do livre-arbítrio em relação aos hábitos. No desenvolvimento deste tópico, ele compara o exemplo de um sonâmbulo que matou a mulher durante um episódio de sonambulismo e uma jogadora compulsiva. Na argumentação fica claro que no primeiro caso o sonâmbulo não teve responsabilidade pelos seus atos pois foi a manifestação/reação do subconsciente, por meio da sua parte mais primitiva, que busca a defesa e a sobrevivência.

Esse entendimento, segundo Duhigg, não se aplica ao caso da jogadora compulsiva, que, de forma consciente, cedeu às tentações da dos cassinos. O autor no entanto, não afirma que seria fácil a jogadora mudar de hábito, pelo contrário, ele afirma que a indústria dos jogos usa técnicas para se aproveitar da fragilidade das pessoas:

“O que descobrimos foi que, neurologicamente falando, os jogadores patológicos ficavam mais entusiasmados com a vitória. Quando os símbolos se alinhavam, mesmo que eles não chegassem a ganhar nenhum dinheiro de verdade, as áreas em seu cérebro relacionadas à emoção e recompensa eram muito mais ativas do que em jogadores não patológicos. “Mas o realmente interessante foram as quase vitórias. Para os jogadores patológicos, perder por pouco era um resultado parecido com uma vitória. Seu cérebro reagia quase do mesmo jeito. Mas para um jogador não patológico, uma quase vitória parecia uma derrota. Pessoas sem problemas com jogos eram mais capazes de reconhecer que perder por pouco continua querendo dizer que você perdeu.”(p. 320). Objetiva. Edição do Kindle.

Destaques:

Se você acredita que pode mudar — se faz disso um hábito —, a mudança se torna real. Este é o verdadeiro poder do hábito: a revelação de que seus hábitos são o que você escolhe que eles sejam.(…)O modo como habitualmente pensamos em nosso ambiente e em nós mesmos cria os mundos onde cada um de nós habita.(p. 330). Objetiva. Edição do Kindle.

“Alguns pensadores”, escreveu Aristóteles na Ética a Nicômaco, “afirmam que é por natureza que as pessoas se tornam boas, outros que é por hábito, e outros que é por instrução”. Para Aristóteles, os hábitos eram soberanos. Os comportamentos que acontecem sem pensar são a evidência da nossa natureza mais verdadeira, ele disse.(p. 326). Objetiva. Edição do Kindle.

“Toda a nossa vida”, nos disse William James no prólogo, “na medida em que tem forma definida, não passa de uma massa de hábitos — práticos, emocionais e intelectuais — sistematicamente organizados para nossa felicidade ou nosso sofrimento e nos conduzindo irresistivelmente rumo ao nosso destino, qualquer que seja ele”.(p. 328). Objetiva. Edição do Kindle.