A vida não é fácil! Gerenciamento de emoções fazendo maternidade

in #portugues7 years ago

Os alemães têm um ditado "Das Leben ist kein Ponyhof", que significa que a vida não é uma fazenda de pôneis. Parece engraçado e óbvio ao mesmo tempo. Algo que todos nós sabemos, certo? A vida não é fácil. Cada pessoa tem sua própria luta pessoal. Então o que há de tão especial nas ações cotidianas de mães gerenciando emoções?

(Fonte: lovethispic.com)

O FATOR PAPAI

Não é segredo que, ainda hoje, muito do cuidado infantil é feito por mulheres. Ainda hoje, quando perguntadas, a maioria das pessoas irá responder que realmente pensam que as mulheres são mais adequadas para esta tarefa. Mães ainda são responsáveis primárias pelo cuidado das crianças, ainda que, para ser justa, exista cada vez mais participação dos homens nas vidas das crianças.

No entanto, apesar da participação progressiva dos homens no cuidado e desenvolvimento infantil, ao mesmo tempo na maior parte dos casos de divórcio as crianças acabam ficando com as mães. Neste processo, muitas destas mulheres se tornam responsáveis sozinhas pelo gerenciamento da vida das crianças em muitos aspectos, e o emocional é um forte aspecto. Para os pais é socialmente aceitável que não sejam muitos presentes e contribuam pouco para o desenvolvimento da criança, quando o fazem. Nesses casos, a evidência de que mães são mais fortemente apoiadoras em questões emocionais é muito clara.

Se um pai não cuida de sua prole, mas provê suporte econômico, ainda é visto como suficiente. É tido como comportamento "natural". Enquanto que a mulher é "naturalmente" feita para o trabalho da maternidade. Se uma mulher decide não ter filhos, é visto como "não natural". Ainda hoje, muitas pessoas pensam a maternidade como sendo o propósito de ser mulher.

No entanto, as coisas parecem estar mudando. No Brasil, por exemplo, têm surgido nos últimos anos uma tendência entre os pais da cultura pop. Estes pais falam publicamente sobre paternidade e querem participar completamente da vida de suas crianças. Porém, ainda está longe de ser uma regra para todas as famílias, e muito longe de estar em um equilíbrio perfeito entre os gêneros (se é que algo assim seria realmente possível no momento). É bom que as coisas estejam mudando, mas ainda que os homens estejam mais participativos nas vidas das crianças, muito do trabalho emocional da família ainda é feito pelas mulheres.

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MAMÃE SABE TUDO

Ser mãe tem diferentes significados para diferentes tipos de cultura. As pessoas criam suas próprias ideias do que uma boa mãe deveria ser dependendo da forma com a qual elas aprenderam isso. No entanto, até mesmo entre os mais conflituosos ideais do que é ser mãe, é consenso que ser mãe é muito mais do que parir uma criança. Muito do que uma mãe deveria ser está relacionado à ideologia predominante quanto ao papel que deve assumir a mulher em determinada sociedade.

Partindo da noção freudiana uma mãe deve ser uma mulher que sabe como ser mãe ou fazer as tarefas da maternidade instrínsicamente. E ao fazer a maternidade, ela ocupa um lugar central na vida das suas crianças, centralizando nela todas as satisfações das necessidades básicas delas. Não é muito diferente de pensar que mulheres são "naturalmente" feitas para as tarefas da maternidade.

A única coisa é que existe uma contrapartida à isso. Já que a mãe ocupa esse lugar central, cada resultado positivo é visto como resultado do estilo de maternidade adotado. Mas se uma mãe falha em cumprir o que é tido como sua tarefa, se o estilo de maternidade escolhido por ela não se encaixa nas expectativas, ou se algo deu errado, então sempre têm alguém para culpar. E esse alguém é: a mãe! E então existem muitas mães por aí se sentindo culpadas pelo que deu errado com seus filhos, e um monte de outras mães se sentindo completamente responsáveis pelas coisas que seus filhos alcançam, até mesmo se eles não moram mais com elas e já gerenciam sozinhos suas próprias vidas. Pra mim, essa é uma visão de ser mãe e dependência filho/mãe bastante problemática.

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Existe sempre uma tendência de imacular a imagem da mãe; seja como a perfeita, pura, fada madrinha com poderes mágicos que resolvem todas as coisas; ou a víbora, a incompetente, desqualificada, uma mulher que é inadequada enquanto mãe. Em geral, é aceitável que os homens não tenham as capacidades necessárias do fazer cotidiano da maternidade, eles podem não demonstrar ternura, zelo e afeição simplesmente porque não aprenderam assim. Os que desenvolvem tais capacidades são "como uma mãe", heróis por fazerem as mesmas tarefas que as mulheres fazem há séculos.

Acho que não somos totalmente bons ou maus, mas uma mistura de todas as coisas boas e más que acontecem conosco em conjunto com a maneira pela qual aprendemos a lidar com tudo isso. Portanto, eu não creio que a mãe é culpada por todas as coisas que um indivíduo não consegue realizar, por todas as coisas que dão errado na vida. Ainda que uma boa parte do nosso aprendizado em como lidar com nossas emoções venha das nossas mães, elas não são responsáveis por nossas escolhas, portanto, não possuem responsabilidade em nossos resultados desfavoráveis. Por outro lado, mães também não são responsáveis por todos os bons resultados e sucessos que um indivíduo conseguiu em sua vida. Em suma, não é culpa da mãe o caminho que escolhemos para nós, ainda que elas estejam altamente envolvidas em nossas vidas.

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No entanto, conscientemente, ou não, elas mostraram durante séculos o caminho para suas crianças viverem e navegarem pela vida. Uma parte importante da maternidade é ajudar as crianças em como dar nome e em como lidar com as emoções que surgem com os eventos da vida. Mães têm feito isso com tudo o que têm disponível: redes, ideologias, filosofias, ferramentas sociais, conjuntos de práticas, capacidades economicas, etc.

GERENCIAMENTO DE EMOÇÕES

Quando eu estava em São Paulo entrevistando mães para minha pesquisa, muitas delas afirmavam ter problemas gerenciando tempo. Muitas mães que conheço estão pensando sobre o gerenciamento do tempo, e em como é avassalador. Eu também sempre tenho problemas em gerenciar meu tempo.

Gerenciar o tempo é, em grande parte, sobre as escolhas e decisões que fazemos em nossa vida cotidiana. No entando, gerenciar o tempo é também gerenciar emoções. Para se sentir emocionalmente estável boa parte das pessoas precisam "sentir" que lidaram bem com suas tarefas diárias, e para muitas mães isso involve suas crianças e casas, seja lá o que isso signifique para cada uma. Para lidar bem com as tarefas diárias, é preciso lidar com todas as emoções que surgem das experiências mais comuns que vivemos.

Para mães, isso significa também lidar com as emoções que surgem das experiências de seus filhos. Com isto, surge a necessidade do auxílio, fornecendo um possível repertório de como nomear os sentidos e sentimentos que surgem com tais emoções.

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Quando uma mãe conforta sua criança aflita, quando ela lida com uma criança confusa, frustrada, teimosa, impaciente, ou mesmo quando está lidando com uma criança alegre e incontrolávelmente feliz, ela está trabalhando um conjunto de emoções. Isso é algo que se aprende somente na prática . Ao mesmo tempo, a criança está aprendendo este conjunto de emoções, e provavemente irá reproduzir a mesma maneira de lidar com estas emoções ao longo da vida. Ainda que mudanças aconteçam pelo caminho, algo que aprendemos emocionalmente de nossas mães sempre fica, seja bom ou ruim.

Mães são o exemplo constante de que a vida não é sobre o que acontece com você, mas sobre como você lida com o que acontece. Elas estão constatemente gerenciando as próprias emoções e ao mesmo tempo auxiliando seus filhos com suas emoções.

Uma parte importante da vida em sociedade é aprender a identificar e expressar emoções. Na primeira infância de uma criança a conexão com as emoções da mãe são incrívelmente fortes, a referência emocional da criança é, em geral, a mãe. Parece desnecessário dizer quão determinante esta relação é para como essa pessoa irá lidar com suas emoções quando adulto.

Nosso primeiro contato com emoções é já na barriga. O estado emocional da mãe pode ter consequências no desenvolvimento de uma criança ainda dentro da barriga, como sugere esse estudo (em inglês) publicado pelo The Guardian. Pude até mesmo encontrar um manual (em inglês)de como ensinar emoções para sua criança.

O trabalho de emoções feito pela mãe é importante para o desenvolvimento da criança, no entanto sabemos ainda muito pouco sobre como estas maneiras aprendidas de como lidar com emoções são socialmente reproduzidas pela vida adulta cotidiana. O que sabemos é que mães estão sempre ensinando algo, e emoções são uma grande parte do negócio.

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Gerenciar emoções compõe o ser mãe. Muitas mães encontram maneiras de manter um equilíbrio emocional, manipulando sentimentos (sentem uma coisa e demonstram outra), entre outras coisas. Uma parte importante da prática diária de maternidade é constantemente trabalhar nosso estado emocional.

Então, voltando à pergunta inicial: o que há de tão especial nas ações cotidianas de mães gerenciando emoções? Eu diria que é precisamente o legado emocional das diversas maneiras de lidar com emoções, que por sua vez são determinantes para como nos posicionamos em nossos encontros cotidianos, sociabilidades e por aí afora...

Independente se pensamos que emoções são coisas inatas, ou se pensamos que são também resultados de nosso ambiente social e sociabilidade, estas são comumente associadas às mulheres. Então, eu diria que quanto mais falarmos sobre as emoções que o fazer maternidade engatilha, mais será possível uma compreensão de como a sociedade em geral lida com as emoções e reproduz certas maneiras de enfrentá-las.

(Imagem source: Pixabay)

Pra finalizar, adoraria saber a impressão de vocês sobre este tópico! E se alguém tiver alguma história para compartilhar sobre como a relação com a mãe auxiliou (ou bagunçou completamente!) sua educação emocional eu vou curtir muito ler!

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Com amor, Gloria