Não sei se esse texto é bonito, mas sei que preciso escrever

in #pt7 years ago

Confesso a vocês que nunca fui apaixonado por música...não de ouvi-las desde criança. Até os quinze anos não sabia se era roqueiro, funkeiro, caipira ou "inteligentinho" (nome dado aos ouvintes da MPB). Mas também nunca tive muita atração por música internacional.

A minha paixão pela música começou com Engenheiros do Hawaii. Não que eu não conhecesse a banda antes de 2013, mas foi a partir daí que me apaixonei...pela letra, pelas poesias, pelas reflexões e canções. Engenheiros é a melhor banda do rock brasileiro, conheço as músicas de A a Z. Gessinger é um gênio. E, para aqueles que nutrem carinho pela falecida banda... tenho a leve impressão de que se o Humberto chamar, o Maltz (baterista) não pensa duas vezes pra voltar.

Mas não era de Engenheiros que eu queria falar.

Conheci o Lobão antes pela política que pelas músicas. A prima obra dele que ouvi foi "O Rigor e a Misericórdia", disco lobônico, uma obra prima. Ele fez tudo. As letras são hinos. Hinos que caem como luva para o conturbado momento brasileiro que atravessávamos em 2016 e que, ao fim e ao cabo, ainda vivemos.

O Guia Politicamente Incorreto dos anos 80 pelo Rock não poderia ter sido escrito por ninguém senão pelo velho Lobo. A revisão de uma época de ouro da música brasileira, das ricas composições e inspiradoras canções não poderia ter sido feita por ninguém. Qualquer outro roqueiro da época iria cair nos cliches politicamente corretos de se ajoelhas diante dos coronéis da MPB. O Lobão não. Nesse trabalho conseguimos ver a alma daqueles que viveram esses longínquos anos...e Lobão pôs seu coração, como em tudo o que ele faz.

Mas não era de Lobão que eu queria falar.

No sábado (02/06), em Curitiba, Oswaldo Montenegro trouxe o seu show "Serenata". Infelizmente eu não pude ir. Fui em um show do menestrel em março de 2016. Imperdível. Oswaldo é um poeta. Suas músicas inspiração. Conseguimos sentir sua alma através da voz...e da flauta da Madalena.

Aliás, além da maestria com que faz canções, Oswaldo já escreveu e dirigiu alguns filmes sensacionais. Sem cair na velha paumolenguice politicamente correta. Aliás, em "O Perfume da Memória", conta a história de duas mulheres que se apaixonam e o conflito entre os dois estilos absolutamente diferentes. É um filme lésbico, mas não aborda os clichés do assunto (como preconceitos, aceitação, infelicidade, sociedade opressora, capitalismo malvadão e Trump louco), pelo contrário, aborda temas pessoais, de dentro. O fator central não é nem a sexualidade, mas o amor. Não faria a menor diferença se fossem dois homens ou um homem e uma mulher. E a profundidade com que ele nos toca, somente com duas atrizes e sua poderosa trilha sonora é de impressionar e nos fazer chorar como bebês.

Deixa eu chorar como nunca fui capaz contigo
Deixa eu enfrentar a insônia como gente grande
Deixa ao menos uma vez eu fingir que consigo
Se o adeus demora a dor no coração se expande

Deixa o disco na vitrola pr'eu pensar que é festa
Deixa a gaveta trancada pr'eu não ver tua ausência
Deixa a minha insanidade é tudo que me resta
Deixa eu por à prova toda minha resistência

Deixa eu confessar meu medo do claro e do escuro
Deixa eu contar que era farsa minha voz tranqüila
Deixa pendurada a calça de brim desbotado
Que como esse nosso amor ao menor vento oscila

Deixa eu sonhar que você não tem nenhuma pressa
Deixa um último recado na casa vizinha
Deixa de sofisma e vamos ao que interessa
Deixa a dor que eu lhe causei agora é toda minha

Deixa tudo que eu não disse mas você sabia
Deixa o que você calou e eu tanto precisava
Deixa o que era inexistente e eu pensei que havia
Deixa tudo o que eu pedia mas pensei que dava

(Se Puder Sem Medo - Oswaldo Montenegrooswaldobew.jpg