Crônica de TDAH
Um dia normal de quem tem déficit de atenção.
Me preparo para sair de casa para ir trabalhar. Já estou atrasada. Saio correndo e no meio do caminho começa a chover. Chego na estação de metrô toda ensopada. Esqueci a carteira. Volto pra casa, cerca de 10 minutos de distância. Mais uns 15 minutos procurando a carteira e trocando de roupa.
Subo rapidamente as escadas em direção à saída, passo pela porta do hall, tranco, atravesso a garagem e chego no portão. A chuva está bem mais forte e esqueci de pegar o guarda-chuva. Volto lá em baixo, pego o guarda-chuva, faço todo o percurso novamente até a estação.
Enfim, chego no trabalho. Eu tenho uma banca de jornal. Foi uma alternativa em tentar me estabelecer como autônoma, já que nunca consegui me manter por muito tempo em uma empresa, devido aos problemas com horário, entre outros que ocorriam durante o expediente, causados pelo déficit de atenção.
Procuro as chaves para abrir a banca, reviro a mochila toda e nada. Deixei a chave em casa. Para não ter que voltar com toda a bagagem, deixo as coisas com a minha vizinha, do comércio ao lado. Me certifico de que, dessa vez, estou com o guarda-chuva e a carteira e corro de novo para o trajeto até em casa. Chego no portão. De repente, um desespero: esqueci a chave na mochila e não tem ninguém em casa. AAAAHHHHH!!!!!!!
Não é piada, nem exagero. Essa é a vida de quem tem TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade). Eu passei boa parte da vida pensando que era uma questão de incapacidade minha ou um déficit cognitivo, pois tinha grandes dificuldades para fazer coisas simples, comuns no dia a dia.
Eu fui diagnosticada aos 15 anos, mas não tive os devidos cuidados e muitas vezes me sentia ainda pior com as medicações. No momento, estou sob um novo tratamento e tenho boas previsões sobre ele. Espero que, em breve, possa vir contar pra vocês sobre uma rotina mais comum e, quem sabe, dar umas dicas pra quem passa pelo mesmo sufoco todo santo dia.