Pão e Circo: Porquê a cultura popular tem que ser tão pobre?
A política do Pão e Circo (panem et circenses, no original em Latim) como ficou conhecida, era o modo com o qual os líderes romanos lidavam com a população em geral, para mantê-la fiel à ordem estabelecida e conquistar o seu apoio.
A definição acima é de um evento que acontecia há séculos atrás, mas que - considerando cenário atual do nosso país - se mantém mais atual do que nunca.
Um pequeno grupo que em detrimento dos próprios interesses, consegue controlar um povo através da oferta de um entretenimento pobre e de baixa qualidade intelectual. Os exemplos são vários: apologia de músicas com viés inapropriados, popularização de programas de TV totalmente inúteis, estimular a fama com base na criação de tendências que tornam o povo ainda mais alienado... Enfim, conceitos pautados que rementem a apenas um único caminho: o grande poder que a futilidade pode ter.
Por vezes eu prefiro pensar que estamos fazendo parte de filme de ficção científica, porque eu não consigo entender / aceitar a ideia de que um país tão grande como o nosso, se deixa levar tão facilmente por uma cultura popular tão pobre.
Quando eu me refiro a "cultura pobre", eu não me refiro ao lado financeiro da situação (porque a cultura não tem - diretamente - nada haver com isso)... Mas sim, a questão intelectual / criação e o poder de agregar valores positivos a quem as consome. É bem verdade que o dinheiro pode influenciar ao acesso de programas culturais (cinema e teatro, por exemplo... são luxo para milhões de pessoas), mas porque quando existe a chance de ouvir uma música de qualidade no rádio, assistir um programa educativo na TV ou prestigiar uma peça simples no meio de uma praça... A maioria das pessoas prefere não fazer isso?
Também não estou dizendo que assistir ou ler "bobagens" te faz ficar menos inteligente... Não há nada de mal nisso (afinal, todo mundo precisa desses momentos). O ruim mesmo é se deixar dominar por isso e pior ainda, servir como meio de distribuição (você faz isso sempre que faz questão de indicar algo ruim para alguém assistir ou ler).
O sistema se quebra - pelo menos um pouco - e mostra muita insatisfação quando, por exemplo, um cidadão da classe C (ou mais baixa) fala que vai - fazer uma viagem internacional - que por sinal, foi paga em prestações a perder de vista, a custo de muita economia - decide aprender um novo idioma, ou conseguir um nível / reconhecimento maior após a graduação.
Uma nação inteligente, consciente dos seus direitos e deveres, é - sem dúvidas - o maior medo de um governo corrupto e controlador... Logo, manter a cultura do "Pão e Circo" funcionando regularmente é uma de suas melhores armas (é como manter o controle sobre um grande rebanho).
Impossível dizer qual será o nosso destino final... Mas sair da redoma de entretenimento que é oferecida pelos governantes / empresários / produtores é uma das nossas melhores alternativas. Então, pondere mais o que você ouve, o que você lê, o que você assiste e o que propaga por aí... Valorize mais o que a maioria das pessoas não conseguem enxergar, porque elas limitam-se apenas a ver (e "enxergar" e "ver" são coisas completamente diferentes).
Ótimo post
Olá, seu texto foi sugerido por um usuário e consta na Galeria de Leitura do Projeto Lusofonia. Visite a publicação aqui para a lista completa de textos indicados: [Galeria de Leitura]: Publicações Sugeridas pelos Usuários e pelo Projeto Lusofonia.
Abraços, luz e sucesso!
Excelente escolha de ideias! Quanto mais for o conhecimento do povo, a exigência do povo, mais as pessoas de poder têm que dar satisfações coerentes.
Excelente post! Me deu uma ideia sobre Maquiavel, em breve postarei algo relacionado a isso.
Na cultura popular temos uma expressão apropriada para esta ideia: "LOL".
A pobreza da cultura deseducada, não está na manipulação das massas por uma classe política superior. O conformismo que te parece impressionar tanto não advém da cultura popular mas da pretensão de saber. Isto nota-se neste tipo de criticismo mais do que noutro lugar. Bastava-te o artigo da wikipedia para perceberes o quão errada está a tua posição sobre o assunto. Ainda assim persistes na difusão do conceito da subjugação cultural das "classes" baixas da sociedade. O problema não está na falta de informação, está na falta de hábito de se procurar essa informação. Este é um dos problemas no nosso tipo de sociedade, ensinaram-nos a ouvir o professor como uma autoridade, a sermos passivos à informação a que estamos expostos e é deste atrofio do espírito crítico que surge o problema. A televisão mente, o professor não sabe tudo, o político serve-se de todas as manhas da retórica para convencer o eleitorado e os tolos de classe C, B e A lá vão na conversa. É por esta maneira de pensar que o mundo está novamente à beira de um desastre nuclear. Então, não sejamos tão levianos ao falar deste assunto. Que tal desconfiar da ideia, de "pão e circo" quando a colocamos dessa maneira? Que tal ver isso como uma prova da superioridade romana - alimentação e entretenimento gratuitos na Urbe! Somos todos latinos apresar do nosso crioulo não ser grande coisa e do Camões ter sido desterrado, ainda podemos manter algum orgulho nisso! A cultura popular é feita disso, do pagode, do poeta que quer impressionar o novo monarca (o Camões, no caso da iliteracia seja tão grande quanto te queixas!), do DJ que saiu da favela, do actor que, sem grande formação académica se fez estrela, do jogador de futebol que, rendendo uns milhões aos elementos do mercado, pôde ter um estilo de vida mais, como dizer, "culturalmente inferior"? Enfim, antes de criticar a pobreza da cultura, devemos cultivar em nós mesmos esses pequenos hábitos de pensar o que são as coisas e quem as dizem - porque as nossas opiniões sobre a realidade são sempre subjectivas (vês? com "c", como o povo escreve) e não queremos ser levados pela primeira ideia que nos afague o ego ou porque temos melhor formação do que o vizinho ou porque nem em prestações a perder de vista podemos ver o mundo ou sair da mesmisse que é aprender a realidade pela opinião de quem em boa verdade não sabe muito mais do que nós.
É assim que se quebra o sistema, abandonando ideia pré-feitas, prontas a servir, fáceis de entender e distribuir. A cultura popular é o steemit e o google, é a favela e o presidente corrupto e manipulador - é o que a Gente como toda a sua proeza e dificuldade intelectual pode produzir e fazer no ambiente ideológico e económico em que vive.