Série - Dialogando com o caso Schreber
Capa do livro - Imagem por print do ebook, e de divulgação.
Boa tarde. Nessa série trarei um percurso sobre o caso Schreber. Com perspectiva nos estudos psicanalíticos e psicodinâmicos, variando entre autores de referências, e trazendo o contexto histórico que o caso representa até hoje nos seguimentos do estudo sobre o funcionamento psíquico.
Memórias de um Doente dos Nervos é um livro escrito por Dr Daniel Paul Schreber, em uma autobiografia, que veio a se tornar uma valiosa contribuição para os estudos das teorias do funcionamento psíquico, principalmente a psicanálise, e consequentemente da psiquiatria.
Dr Schreber era um juiz de naturalidade alemã, proveniente de uma família da classe burguesa, que no século XVIII, essa família se estruturava, na busca de continuar o reconhecimento intelectual familiar, de geração em geração.
A autora Marilene Carone, que transcreve o livro para o português, cita um trecho de seu um livro do bisavô de Dr Schreber, “Escrevemos para posteridade”. E remonta a estrutura familiar, de religião protestante, praticantes convictos, do qual seu pai que era bem sucedido na carreira, já havia escrito 20 livros, médico, e tinha um manual de criação de crianças, baseada em uma moral rígida, contenção emocional, postura corporal, ginástica e abolição dos sentimentos imorais. Trazia que sua obra era uma contribuição a Deus e a sociedade humana.
A mãe de Schreber do qual poucos relatos se tem, mas direcionam a uma dona de casa exímia, com humor variável, triste, e submissa ao marido, ainda tem mais cinco irmãos, dois mais velhos, e dois mais novos.
Daniel Gottilieb, pai de Schreber, dizia em relatos, se orgulhar de ter aplicado nos filhos seus próprios métodos educacionais, o qual dizia ter resultado excelentes, e foi um método famoso na Alemanha naquela época, no final do século XVIII e início do século XIX.
E com o passar dos anos, quando Schreber tinha 19 anos, e decidiu cursar Direito, foi o mesmo ano que Gottilieb sofre um acidente, ficando acamado, falecendo 3 anos depois.
É importante salientar que o modelo de criação ao que se tem descrito, não contempla violência em si, relatos de que Schreber era um filho exemplar, crítico, inteligente, somente não acostumado com afetuosidade.
E com quase 30 anos, Scheber já era formado em direito, conselheiro do tribunal da região, perdeu o irmão por suicídio, internado em instituição hospitalar na época, cogita-se uma quadro depressivo, assim como uma irmã também tinha passagens recorrentes por hospitais, com o que na época chamavam de histeria.
Bem sucedido, seguiu sua carreira no campo jurídico, com promoções, chegando a concorrer em eleições e ser Juiz de uma importante região, cargo difícil e de muito prestígio.
Nessa breve introdução, trarei o caso do Dr Schreber, que ficou muito famoso, talvez não pelo que sua família esperasse, Scheber passou quase 17 anos ao todo internado em instituições psiquiátricas. E veremos tudo passo a passo.
E no início do século XIX, S. Freud, através do livro escrito Memórias de um Doente dos Nervos, do Dr Schreber, que elaborou ao longo, e após sua segunda longa internação, faz uma análise através da escrita com base na teoria psicanalítica, do qual escreve e discorre as circunstâncias que envolvem o caso, sem nunca tê-lo conhecido.
O que se tornou um marco para a Psicanálise, vindo a ser retomado o caso a posteriori pelas academias de ensino, grandes nomes do saber psicanalítico, como J. Lacan e C. Melman, entre muitos outros, sendo uma referência de estudo e discussão da clínica da psicose.
Ao começar este trabalho ainda não pensava em uma publicação. A idéia só me ocorreu mais tarde, à medida em que ele avançava. A este respeito não deixei de levar em conta as objeções que parecem se opor a uma publicação trata-se especialmente da consideração por algumas pessoas que ainda vivem. Por outro lado, creio que poderia ser valioso para a ciência e para o conhecimento de verdades religiosas possibilitar, ainda durante minha vida, quaisquer observações da parte de profissionais sobre o meu corpo e meu destino pessoal.
Daniel Paul Schereber
Quer investir nos seus posts e na conta? Conheça o mais novo projeto da nossa comunidade no link Invista na sua conta!
Conheça o projeto @msp-brasil - Novidades estão vindo por aí!
Faça parte do projeto Brazilian Power, fazendo sua assinatura, cuja meta é incentivar a criação de mais conteúdo de qualidade, conectando a comunidade brasileira e melhorando as recompensas no Steemit. Você sabia que também pode nos apoiar delegando um pouco de Steem Power e receber por isso? Obrigado!
Olá, tudo bem contigo @matheusggr? Parabéns por seu post e obrigado por usar nossa nova tag #fazendohistoria. E é claro, de participar do Desafio! Tá aí outra séria que já chegou #fazendohistoria heim? Interessante perceber como a família Schreber, aparentemente, tinha o conhecimento intelectual como uma "maestria de ofício". Os mestres de ofício medievais e da primeira modernidade, geralmente passavam seus conhecimentos hereditariamente. Mas aqui estamos falando de ferreiros, marceneiros, alfaiate, etc. Eco que percebo pode estar presente no campo intelectual, talvez. Até mesmo essa ideia de "Escrevemos para posteridade" tem muito de uma manifestação do guerreiro/cavaleiro, que sai em busca de aventuras para ser lembrado. Através da rememoração é que se alcança a vida eterna.
(que novidade que pouco se relata sobre as mães... hunf!)
Mas gente!! Esse Daniel Gottilieb (o pai) usou os filhos como cobaia? o.O O método "não contempla violência" ou eles preferiram dizer isso? hum... "somente não acostumado com afetuosidade" ou seja, era um alemão. (brinks)
Que a Deusa Fortuna esteja do seu lado!!
Saiba mais!
Valeu @leodelara! Interessante essa questão dos mestres de ofício, e realmente essas coisas repercutem ao longo do tempo. Sobre a mãe é um viés, o próprio Schreber pouco fala dela também, o que é estranho mesmo. A violência e falta de afeto caminham juntos. Eu que agradeço pelo complemento! Obrigado!
Depois de Fernand Braudel, chamamos "essas coisas repercutem ao longo do tempo", de Longa Duração. Sobre as mães, irmãs, esposas, mulheres em geral, elas aparecem pouco na história antes do século XX. E quando o fazem, são retratadas como "mães, irmãs e esposas", ou seja, em relação ao homem. Abraço e até a próxima!
Interessante. Vem de uma estrutura que também vemos no termo Longa Duração até hoje em relação ao feminino. Ser referenciada em relação ao homem. Na prática clínica é muito comum, além ideal que se estrutura, nas bases familiares, que no caso discorrido em específico caminharemos no ideal do pai, e como as exigências que fazemos em nós mesmos em uma maneira geral, vem de um ideal construído nas bases da infância.
Parabéns, seu post foi selecionado pelo projeto Brazilian Power, cuja meta é incentivar a criação de mais conteúdo de qualidade, conectando a comunidade brasileira e melhorando as recompensas no Steemit. Obrigado!
estou esperando pela continuação!
ptgram power | faça parte | grupo steemit brasil
Valeu @joaoprobst! Vai sair em várias direções!
Assisti ao filme, e foi "de dar nos nervos", ver o pai de Schreber utilizar os filhos como cobaias, para suas teorias educativas loucas, rígidas, com objetivo de criar um novo homem. Tenso, denso, repleto de detalhes, angústias, porém, os caminhos casavam-se e entediamos as correlações dos seus delírios. Ainda não tive oportunidade de ler o livro, mas imagino o quão o entendimento ficará mais coerente para visualizar as nuances da tamanha loucura!
Aguardando a continuação do seu post. Parabéns!
Obrigado pelo comentário @tabataoliveira! Realmente o filme é uma loucura em si! O livro também! kkk. É difícil lê-lo todo. Do qual suas descrições do filme muito se assemelham. E o que traz é muito do que acontece no dia a dia, o sofrimento psíquico é extremamente ligado a nossa criação e cultura. Não só genética como muitos trazem hoje. Tentarei trazer isso de alguma forma!